O Estoicismo, uma filosofia que floresceu entre o século III a.C e a Idade Média, é frequentemente mal interpretado nos contextos modernos. A palavra 'estoico' hoje é muitas vezes sinônimo de indiferença ou apatia. No entanto, ao olhar para os ensinamentos de Zenão de Cítio, fundador do estoicismo, ou do imperador romano Marco Aurélio, notamos que os estoicos não eram apáticos, mas aprendizes da resignação.
Os Estoicos, como observado pelo filósofo Epicteto, enfatizam o domínio sobre as coisas que podemos controlar, como nossos pensamentos e desejos (Epicteto, 2012). Esta observação nos leva a questionar as nossas capacidades sob os nossos próprios impulsos. Seriam eles a fonte do mal? Para os estoicos, o mal reside no descontrole emocional, a falta de domínio sobre os nossos impulsos e instintos.
Por outro lado, considere Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise. Ele afirmou que os impulsos, por si só, não são bons nem maus, a definição advém da maneira como esses pulsos se relacionam com as necessidades e exigências da comunidade humana (Freud, 1976). Desta perspectiva, vemos o 'mal' como uma consequência da natureza primitiva inextricável do ser humano, não necessariamente do descontrole dos impulsos.
Se olharmos de perto, estas duas perspectivas aparentemente distintas sobre o controle das emoções e impulsos humanos podem ser conciliadas. Freud concebeu o conceito de 'sublimação' - um processo pelo qual os impulsos sexuais, ligados aos nossos instintos primitivos, são redirecionados para atividades não sexuais, como a arte, o esporte ou o desenvolvimento intelectual. Esta sublimação, conforme concebida por Freud, assemelha-se a uma filosofia estoica - ser feliz através da alegria da criação artística ou do avanço da ciência (Freud, 1930), tudo dependendo do domínio dos nossos impulsos e emoções.
Contudo, há uma diferença notável entre as duas filosofias. Enquanto Freud vê a capacidade de sublimação como algo apenas para alguns 'privilegiados', o estoicismo sustenta que essa capacidade é inerente a todos os seres humanos. Mas, a realidade nos mostra que, embora a alma humana possa ter a capacidade potencial de transformar impulsos passionais e sublimá-los, nem sempre essa capacidade é utilizada.
Em resumo, tanto o estoicismo quanto a psicanálise nos oferecem ferramentas valiosas para abordar e controlar nossos impulsos e emoções. O segredo, talvez, resida em perceber que todos somos capazes de dominar os nossos impulsos - sejam eles primitivos ou indesejados - e direcioná-los para objetivos mais produtivos e gratificantes.
Notas e referências:
1. Epicteto (2012). Encheiridion: The Handbook. Reissa Roni.
2. Freud, Sigmund (1976). O mal-estar em civilização, Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
3. Freud, Sigmund (1930). Civilization and Its Discontents. Penguin Modern Classics.
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